quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

A REFORMA PROTESTANTE

O PAGANISMO NA IGREJA
Nos primórdios do cristianismo as igrejas eram independentes e administradas sob a supervisão de um Bispo em cada região metropolitana. Os bispos eram perseguidos, encarcerados, maltratados e agredidos. Aqueles que haviam sido torturados, ostentavam grandes cicatrizes. Alguns estavam caolhos, aleijados e doentes. Apesar disso, não negaram a fé em Jesus e a Igreja prosperava a cada dia. Para ser cristão, nesse período, era necessário uma experiência pessoal e genuína com Cristo, do contrário, não seria possível suportar a perseguição.

Ao perceber o avanço do cristianismo, o império aliou-se a nova religião. Em 313 d.C. o tetrarca ocidental Constantino I, o grande , e Licínio, o tetrarca Oriental, promulgaram o édito de Milão, também referenciado como: édito da Tolerância, declarando liberdade de culto aos cristãos e dando fim a perseguição religiosa.

Tempos depois em 324 d.C, Licínio é assassinado e Constantino I passa a ser o único Imperador. Para manter a Igreja sobre controle, o Imperador converte-se ao cristianismo. No final de maio de 325 d. C, ele convoca um concílio ecumênico em Nicéia, e ao total, reuniram-se trezentos e dezoito bispos. O concílio durou dois meses e declarou o bispo de Alexandria como, patriarca dos bispos das regiões da África do Norte e arredores e o bispo de Roma, o legítimo líder emérito dos bispos do Ocidente.

A partir desta data, para ocupar o Bispado precisava-se do aval do Imperador. E, agora que a perseguição tinha cessado, para ser cristão não era mais obrigatório a experiência pessoal e a conversão genuína.

O golpe total sobre a Igreja veio em 380/381 quando o Imperador Teodósio promulga o Édito de Tessalônica declarando o cristianismo religião oficial do Imperador, trazendo para dentro da Igreja multidões de pessoas não convertidas que, para se tornarem agradáveis ao Imperador, faziam-se cristãos nominais, sem experimentarem a genuína conversão, introduzindo na Igreja heresias e práticas do paganismo reinante.

Dentre as heresias pode-se destacar no ano 400 d. C, o culto à virgem e aos santos, o fato de Maria passar a ser chamada Theotokos – mãe de Deus, a invenção da oração aos mortos e o sinal da cruz. Em 440 d. C, Leão Magno (Leão I) – Bispo de Roma, declara que o episcopado romano é a autoridade suprema da Igreja no mundo. Um constrangimento que o catolicismo mantém a sete chaves são os onze anos de pontificado da papisa Joana que teve inicio em 741 d. C.

CISÕES E CORRUPÇÕES NA IGREJA
Com a entrada do paganismo, os interesses particulares passaram a sobrepujar a doutrina cristã. A indicação para o papado era feita mediante suborno e muita corrupção; por exemplo, após a morte do papa Cônon (687 d. C), Pascoal subornou o arcebispo de Ravena, no intuito de também ser reconhecido como papa legítimo. Em Roma, tinham sido eleitos, nesse ínterim, Teodoro e também Sérgio I. como Pascoal não pagasse a quantia acertada a Ravena, o arcebispo de lá se decidiu em favor de Sérgio I. Teodoro submeteu-se a decisão e Pascoal foi parar no cárcere.

No inicio do segundo milênio da Era Cristã, tanto a igreja católica ocidental, liderada por Roma, como a ala oriental, liderada por Constantinopla, já haviam incorporado em suas práticas e liturgias vários pontos que seriam questionados pela Reforma. Assim, no ano de 1054, uma bula papal de excomunhão do Patriarca Oriental dói depositada no altar de Santa Sofia, em Constantinopla. Houve retaliação por parte do patriarca de Constantinopla e o Cisma estava configurado. A partir daí a história se divide e passamos a acompanhar muito mais a história da igreja romana, do que Ada igreja Grega Ortodoxa e de suas variações e ramos (Russa Ortodoxa, Marinitas, etc.).

Um outro Cisma no Catolicismo durou 40 anos (1377-1417). Nesse período houve simultaneamente dois papas, um em Avignon, na França e o outro em Roma. Os cardeais dos dois partidos pensaram em resolver a situação através da convocação de um Concílio em Pisa (1409). Os dois papas existentes são depostos e é designado um novo, Alexandre V. A cristandade tem agora três papas, já que Bento XIII e Gregório XII se recusam a abdicar. O imperador Sigismundo impõe então a João XXIII, sucessor de Alexandre V, a convocação de um novo Concílio em Constância (1414).

Durante o Concílio de Constança, 3 papas estiveram lá, toda a manhã, amaldiçoando-se uns aos outros e chamando seus oponentes de anticristos, demônios, adúlteros, sodomitas, inimigos de Deus e dos homens. Um deste papas, João XXIII (1410-1415) foi acusado por 37 testemunhas (na maioria bispos e padres) de fornicação, adultério, incesto, sodomia, roubo e assassinato. Foi provado, por uma legião de testemunhas, que ele havia seduzido e violado mais de 300 freiras. Seu próprio secretário, Niem, disse que ele havia em Boulogne montado um harém, onde não menos de 200 meninas tinham sido vítimas de sua lubricidade. Um registro no Vaticano oferece esta informação: Sua santidade, o papa João XXIII, cometeu perversidade com a esposa do seu irmão, incesto com santas feiras, relações sexuais com virgens, adultério com as casadas, e todos os tipos de crimes sexuais totalmente devotado ao sono e outros desejos carnais, totalmente adversos á vida e ensino de Cristo, ele era chamado publicamente de o diabo encarnado.

Para aumentar sua fortuna, João XXIII cobrou impostos sobre quase tudo – incluindo prostituição, o jogo e a usura. Ele tem sido chamado de o mais depravado criminoso que já sentou no trono papal.

Os cismas e as imoralidades, acima relatadas, fragilizaram, gravemente a autoridade pontifica, acendendo duras críticas à igreja. Deste modo, começaram a surgir movimentos reformistas que pregavam uma vida cristã mais coerente com o Evangelho. Destes movimentos podem-se destacar: os valdenses, no século XII, conhecidos como os pobres de Lyon ou os pobres de Cristo – que questionaram a autoridade eclesiástica, o purgatório e as indulgências. Os cátaros ou albigenses – que defenderam nos séculos XII e XIII um ascetismo exacerbado e os Petrobrussianos – que rejeitavam a missa e defendiam o casamento dos padres.

PRINCIPAIS PRECURSORES DA REFORMA
John Wycliff - Um dos grandes precursores da Reforma foi John Wycliff. Nascido na cidade de Yorkshire, Inglaterra, em 1329. foi professor da Universidade de Oxford, teólogo e reformador religioso inglês, considerado precursor das reformas religiosas que sacudiram a Europa nos séculos XV e XVI, Wycliff queria reformar a Igreja Romana através da eliminação dos clérigos imorais e pelo despojamento de sua propriedade que, segundo ele, era a fonte da corrupção.

As obras mais proeminentes foram: A Verdade das Sagradas Escrituras, O Poder do Papa, Apostasia e Eucaristia. Convicto de que a Bíblia é a lei de Deus, resolveu dá-la ao povo na sua própria língua. Entre 1382 e 1384 as Escrituras foram traduzidas da Vulgata Latina para o Inglês. O arcebispo de Cantuária reuniu um sínodo em Londres que condenou 24 teses de Wycliff. Ele não mais lecionou em Oxford e seus sacerdotes pobres foram presos. Pessoalmente, Wycliff não foi atacado, em virtude do forte apoio popular e da corte de que ainda gozava.

Morreu, no exercício de seu pastorado em Lutterworth, no ultimo dia do ano de 1384 tinha vivido 55 anos. Trinta anos após sua morte o Concílio de Constança (1414-1415) o condenou como “o pestilento canalha de abominável heresia, que inventou uma nova tradução em sua língua materna”. Em 1428, a igreja Romana deu ordem para cavar sua sepultura, queimar os seus ossos, e lançar suas cinzas no rio Swift. John Wycliff foi o principal expoentede medidas reformadoras e, por isso, é chamado de: “Estrela d’Alva da Reforma”

João Huss - Um dos grande seguidores de Wycliff, foi João Huss. Nascido em 1369, em Husinec 975 kn de Praga) cursou o bacharelado e o mestrado em teologia e tornou-se famoso por divulgar as idéias de Wycliff e tornar-se reformador da Boémia. Em 6 de Julho de 1415, em Constança, no dia de seu aniversário, foi queimado vivo por ordem da Igreja Romana, estava completando 46 anos de idade. Antes de ser queimado, Huss disse as seguintes palavras ao carrasco: “Vocês hoje estão queimando um ganso (Huss significava ganso na lingua boêmia), mas dentro de um século, encontrar-se-ão com um cisne. E este cisne vocês não poderão queimar. Costuma-se identificar Martinho Lutero com esta profecia (que 102 anos depois pregou suas 95 teses em Wittenberg).

Jerônimo Savonarola - A vida do monge italiano Jerônimo Savonarola nascido no dia 21 de setembro (1452-1498), um dos precursores da Reforma do século XVI, abrangeu vários campos da atividade humana na cidade italiana de Florença. Em seus sermões atacou violentamente os crimes de Roma e pregava como um dos profetas hebreus. Savonarola terminou preso por ordem papal e foi condenado à morte. Em 25 de maio de 1498, foi enforcado e queimado na grande praça de Florença, aos 46 anos de idade, dezenove anos antes das 95 Teses de Lutero.

Vários outros clérigos passaram a difundir as idéias de Wycliff E Huss. Entretando, em virtude de nosso pouco espaço, apresento para este trabalho apenas esses três.

MOTIVOS QUE LEVARAM A REFORMA
No início do século XVI, a decadência moral do catolicismo romano era assustadora. Alexandre VI (1492-1503) ganhou sua eleição para o papado subordinando cardeais. Muitos o consideram mais corrupto dos papas da Renascença. Ele viveu em incesto público com suas duas irmãs e com a própria filha, Lucrecia, de quem se diz que teve um filho. Em 31 de outubro de 1501, promoveu uma orgia de sexo no Vaticano, que não teve igual em terrível horror nos anais da história humana.

Anos depois João de Médice, que assumiu o nome de Leão X, tornou-se papa de forma inusitada (1513-1521). Ele recebeu o chapéu do papa Inocêncio VIII, na idade de 13 anos – tratava-se de um acordo entre papa e o pai de João Médice, o poderoso governante de Florença. Aconteceu que o papa Inocêncio VIII tinha um filho natural que havia se casado com a irmã de João de Médice (Leão X). Mas tarde Leão X, deu o chapéu de papa a um neto de Inocêncio VIII, o qual era também sobrinho de Leão X – esta ação também fazia parte do acordo firmado anteriormente.

Leão X tornou-se um grande corrupto. A venda de indulgências predominou durante o seu papado. Tudo começou quando o arcebispo de Madnburgo reivindicou junto ao papado a acumulação das funções das dioceses de Mayence e Hlberstadt, na Alemanha. A confirmação dada pelo papa Leão X (da família dos banqueiros Médice de Florença), em agosto de 1514, custaria ao arcebispo, à soma de 14 mil ducados, acompanhada de uma concessão voluntária de mais 10 mil ducados.

A intermediação do negócio entre o arcebispo e o papa foi reservada ao grande banqueiro Jacob Fugger, o rico. Foi para pagar os adiantamentos de Fugger que o papa Leão X concedeu ao arcebispo permissão de vender indulgências ao preço entre 8 e 9ducados cada uma, nas condições do seu arcebispado.

A concessão, conforme determinou a bula papal de31 de março de 1515, se estenderia por oito anos, sendo que o arcebispo e o pontífice dividiriam entre si os proventos alcançados repassando-os ao credor Fugger. Sendo queLeão X, com o que lhe cabia, pensava em acelerar as obras do Vaticano, então em construção. Todavia, Maximiliano, o imperador do Sacro Império Romano-Germano, desde que fora informado do acordo, exigiu sua participação, reclamando para si, durante os três primeiros anos, 1/3 do que fosse recolhido entre os crentes temerosos das penas eternas.

John Tetzel, conhecido como homem de má conduta, mas que era habilidoso na arte de levantar fundos, foi indicado para vender as indulgências na Alemanha. Diante da cruz era colocado um grande cofre de ouro para receber o dinheiro e em seguida, o povo era induzido de várias maneiras, a comprar indulgências.

Tetzel levava consigo um quadro do diabo atormentando as almas no purgatório e repetia freqüentemente as palavras que apareciam na caixa de dinheiro: Sobald der pfennig im kasten klingt, kie seel aus dem Fegfeuer springt, que traduzido livremente significa, Assim que o dinheiro no cofre cai, alma atribulada do purgatório sai. Os ricos davam grandes doações, enquanto os pobres camponeses sacrificavam o que podiam a fim de ajudarem seus queridos no purgatório, ou para obter perdão de seus pecados.

Além disso, o alto clero, a começar pelo papa, explorava a crendice popular praticando a simonia, ou seja, o comércio de artigos religiosos. Entre os produtos comercializados encontravam-se tíbias do jumento montado por Jesus quando entrou em Jerusalém, pedaços do manto da virgem Maria, frascos contendo ar da gruta de Belém e uma série de outras relíquias falsificadas.

Obras consultadas:
OSLON. Roger. História da Teologia Cristã. São Paulo: Editora Vida, 2001. p. 156.
FISCHER-WOLLPERT, Rudolf. Léxico de Papas. Petrópolis: Editora Vozes, 1991. p. 44.
MARK A. Knoll. Momentos Decisivos na História do Cristianismo. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1998
WOODROW, Ralph. Babilônia: a Religião dos Mistérios, Cap. 9, p. 70-71, Cap.12, p.101-102.
HUGHES, Philip. História da Igreja Católica. Asão Paulo: Dominus Editora S.A, 1962.
ALMEIDA, João Ferreira. Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. CPAD, 1995.

UNÇÃO COM ÓLEO

Leitura: Tg 5.14-18 O uso de óleo para unção do corpo era bastante utilizado no mundo antigo, com emprego na medicina, na cosmética e também num sentido simbólico e religioso. Vários tipos de unção.
A Bíblia menciona a unção com óleo com vários propósitos: a) Para cuidar do corpo ou cuidados da beleza (Rt 3.3; Et 2.12; 2 Cr 28.15; Jz 16.8; Ez 16.9; Mt 6.17). Era omitido em períodos de luto (2 Sm 14.2; 12.20) ou grande tristeza (Dn 10.2,3), pois significava alegria (Pv 27.9; Sl 45.7; Is 61.3), 
b) Com propósito medicinal (Is 1.6; Jr 51.8; Lc 10.34). Era muito comum o uso de óleo para inchaços e feridas de diversos tipos; machucados, cortados e qualquer tipo de ferimento. 
c) Era oferecido a um convidado de honra (Sl 23.5; Lc 7.38,46; Jo 11.2; 12.3), 
d) Também usado para honrar os mortos (Mc 16.1; Gn 50.2; 2 Cr 16.14) ou para preservar o corpo, 
e) A unção cerimonial. Esta é a unção formal de um Sacerdote (Ex 28.41), profeta (1 Rs 19.15,16) ou de um Rei (1 Sm 10.1; 16.3,12). A idéia desse tipo de unção é de separação e consagração, isto é, dedicação da pessoa a determinada tarefa. Derramado sobre a cabeça da pessoa, o óleo cobre o corpo. A idéia é de revestimento de poder e autoridade. O verbo grego correspondente ao hebraico nesse tipo de unção é “Chrio”, uma palavra cognata de Christós, que deu origem ao nome Cristo. Portanto, a palavra “Cristo”, significa: O Ungido, o Separado por Deus para um ministério especial,
f) Também era usado para consagração de objetos (Ex 30.22-33; 40.9), com o mesmo propósito de separação.

Qual o sentido de ungir os doentes, na orientação de Tiago? 
1. Poderia ser o uso do óleo como remédio, acompanhado de oração. Encontramos algumas recomendações para uso do remédio, na Bíblia, além da oração. Vinho também era usado como medicamento, tanto para uso tópico (Lc 10.34) como oral (1 Tm 5.23). Também eram usados emplastos (Is 38.21; 2 Rs 20.7) e sal para esfregar o corpo (Ez 16.4). O verbo “ungir” em Tiago 5.14,é “aleipho”, que quer dizer “friccionar, aplicar sobre, esfregar”. Para as doenças daquele tempo, havia um remédio muito comum: o óleo de oliva, que ainda hoje é muito rico em propriedades curativas. Tiago poderia estar sugerindo que fizessem oração, mas não deixassem também de usar de medicamentos que estivessem à disposição.
2. Tiago poderia estar sugerindo o uso do óleo meramente como sinal visível e tangível da manifestação do Espírito de Deus, pois é isto que ele simbolizava (1 Sm 16.13; Lc 4.18; At 10.38; 2 Co 1.21; 1 Jo 10.20), pois embora os antigos considerassem o azeite de oliveira dotado de propriedades medicinais, nunca se pensou entre eles que o azeite fosse capaz de curar toda e qualquer enfermidade. Jesus usou lodo para curar um cego de nascença (Jo 9.6) - A Mishnah menciona essa prática da aplicação de lodo, preparada com argila e saliva, a olhos enfermos – apenas como um sinal tangível e não como remédio, pois a cura foi instantânea. Tiago certamente sabia que o azeite não curava todas as doenças, mas recomendou o seu uso para todos os doentes.
3. A doença poderia ser o resultado de desobediência, pecado, na vida do crente (1 Co 11.30), pois Tiago fala de confissão e perdão de pecados neste contexto. O pecado afeta não somente a saúde espiritual, mas também física (Sl 32). Poderíamos pensar que no AT o líder religioso cumpria o papel de tratar as doenças (Lv 13.2,3; Mt 8.4) e que Tiago estaria transportando este conceito para a igreja, Mas se havia pecados que resultaram na doença, os presbíteros seriam os representantes da igreja, que recebeu autoridade do Senhor para perdoar pecados (Jo 20.23). Por estar enfermo, o crente não poderia ir à igreja, de modo que chamaria os anciãos. O azeite seria um sinal do Espírito Santo, que purifica o crente (Tt 3.5; 1 Co 6.11).

Algumas observações adicionais: Tiago não apresenta uma fórmula genérica para curar a todos, pois a cura, como resposta à oração, depende da vontade de Deus (1 Jo 5.14). Deus às vezes permite a doença (Jo 11.37; Gl 4.13,14; 1 Tm 5.23; 2Tm 4.20). Noutros casos, Deus resolve levar seus amados santos ao céu, durante uma enfermidade (2 Rs 13.14,20). De uma maneira geral, podemos dizer que Deus quer curar as enfermidades, mas em casos específicos, vemos que alguns não foram curados (Jo 5.3-9; Fp 2.25-27; 2 Tm 4.20; 1 Tm 5.23).
Jesus nunca mandou ungir enfermos com óleo, mas é certo que, pelo menos uma vez, (Mc 6.13) se tem notícia de que os apóstolos ungiam enfermos com óleo e os curavam. Evidentemente, eles o faziam dentro dos costumes correntes entre os judeus, que eram do conhecimento de Jesus, pois Ele mesmo se refere a unção como ato de dignidade para um visitante e também no sepultamento de um morto.
A verdadeira ênfase no texto bíblico de Tiago, capítulo 5 não é sobre o óleo, mas sobre a oração, citada várias vezes. É a oração da fé que salva o doente e não a unção com azeite. Jesus orientou seus discípulos a orarem com fé (Mt 21.22; Mc 11.24) para receber dádivas de Deus. A fé foi destacada pelo Senhor na cura dos enfermos (Mc 16.17,18). Pela oração também os pecados são perdoados (1 Jo 5.14-16).
O óleo não é usado para outros fins, como atrair prosperidade (ungindo-se carteiras ou bolsas), “espantar” demônios (ungindo-se portas e janelas, roupas, etc), nem para abençoar um ambiente. Não devemos atribuir qualidades místicas ao azeite, seja aquele do tipo comum, vendido no supermercado ou qualquer outro com características aromáticas, como bálsamo ou mirra. Este tipo de coisa revela-se apenas em superstição e dá oportunidade de alguém aproveitar-se da fé ingênua de alguns crentes. Não vivemos mais na era da Lei, carregada de símbolos, mas na era da graça, quando Cristo e o Espírito Santo estão presentes de forma real e permanente na vida do crente.
Existem algumas passagens bíblicas difíceis de entender e que são muitas vezes usadas para apoiar doutrinas distorcidas. Uma destas, sem dúvida, é esta em que Tiago recomenda o uso de óleo nos enfermos. Um dos desvios de interpretação de unção é o sacramento da extrema unção, usado pela Igreja Católica Romana, ministrado às pessoas que estão para morrer. Esta unção não foi recomendada àqueles que estão morrendo, mas ao que estão doentes e querem ser curados. A idéia é de restabelecimento e não preparação para a morte.

Obras consultadas: COENEN, Lothar; BROWN, Colin. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2000.
DUFFIELD, Guy P., VAN CLEAVE, Nathaniel M. Fundamentos da Teologia Pentecostal. São Paulo: Quadrangular, 2000.
WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. Santo André: Geográfica, 2008.

A CANONICIDADE DA BÍBLIA

Que livros fazem parte da Bíblia? Como foi que a Bíblia veio a ser composta de 66 livros? Alguns livros foram retirados da Bíblia? Porque as Bíblias católicas possuem mais livros que as Bíblias protestantes?
1. Definição: A palavra cânon, deriva do grego kanõn (”cana, régua”), que, por sua vez, se origina do hebraico kaneh, palavra do Antigo Testamento que significa “vara ou cana de medir” (Ez 40.3), tem sido traduzida em nossas versões em português como, “regra”, “norma” e significa, literalmente, vara ou instrumento de medir. Tem sido utilizada, de forma figurada, para identificar a regra ou critérios que comprovam a autenticidade e inspiração dos livros bíblicos; a lista dos Escritos Sagrados; sendo, também, sinônimo de escrituras - como a regra de fé e prática investida de autoridade divina.Quando a Bíblia foi escrita, cada rolo foi produzido em separado. Podemos observar Jesus, na sinagoga, pedindo “o rolo do profeta Isaías” (Lc 4.17). A divisão em capítulos foi introduzida pelo professor universitário parisiense Stephen Langton, em 1227, que viria a ser eleito bispo de Cantuária pouco tempo depois. A divisão em versículos foi introduzida em 1551, pelo impressor parisiense Robert Stephanus. Ambas as divisões tinham por objetivo facilitar a consulta e as citações bíblicas, e foi aceita por todos, incluindo os judeus.

2. Teste de Canonicidade O agrupamento dos rolos, para a formação da Bíblia e a definição de quais os rolos eram, de fato de autoridade divina, foi um processo guiado por Deus, através dos concílios, nos quais a autoridade dos livros sagrados foi reconhecida. Esse processo levou algum tempo e foi feito seguindo critérios como a autoridade do autor, o conteúdo do livro, o valor profético e a confiabilidade, o reconhecimento da comunidade judaica ou cristã, entre outros. A seleção do cânon continuou até que cada livro provasse o seu valor, passando pelos testes de canonicidade. Não sabemos quais os critérios exatos, adotados pela Igreja, para identificar a canonicidade dos livros da Bíblia. Geisler e Nix registram esses cinco princípios:1. Revela autoridade? - Veio da parte de Deus? (Esse livro veio com o autêntico “assim diz o Senhor”?)2. É profético? - Foi escrito por um homem de Deus?3. É autêntico? (Os pais da igreja tinham a prática de “em caso de dúvida, jogue fora”. Isso acentua a validade do discernimento que tinham sobre os livros canônicos.”)4. É dinâmico? — Veio acompanhado do poder divino de transformação de vidas?5. Foi aceito, guardado, lido e usado? — Foi recebido pelo povo de Deus?Pedro reconheceu as cartas de Paulo como Escrituras em pé de igualdade com as Escrituras do Antigo Testamento (2 Pedro 3:16).

3. Canonicidade do Antigo e do Novo Testamento O Novo Testamento se refere ao Antigo Testamento como escritura (Mt 23.35; a expressão de Jesus equivaleria dizer hoje “de Gênesis a Malaquias”; cf. Mt 21.42; 22.29). Jesus também fez referência às três divisões da Bíblia Hebraica - a Lei, os Profetas e os ‘Escritos’, em Lc 24.44. Ele também faz referência em Mt 23.35 e Lc 11.51, aos mártires do AT, citando Abel (Gn 4.8) e Zacarias (2Cr 24.21), cujas mortes foram registradas, na ordem da Bíblia Hebraica, o primeiro e o último livros do AT.Sendo o Antigo Testamento a Bíblia Hebraica, a definição do Cânon deste foi feita pelo povo judeu. Alguns afirmam que todos os livros do cânon do A.T. foram reunidos e reconhecidos sob a liderança de Esdras (quinto século a.C.). O Sínodo de Jamnia (90 A.D.) foi uma reunião de rabinos judeus que reconheceu os livros do Antigo Testamento.A definição do cânon do Novo Testamento foi feita pela igreja. O primeiro concílio eclesiástico a reconhecer os 27 livros que o compõe foi o concílio de Cartago, em 397 DC., ficando, assim, definido o cânon de toda a Bíblia, com os atuais 66 livros.

4. A Diferença entre a Bíblia Evangélica e a Bíblia Católica Muitos outros livros foram produzidos em Israel e pela comunidade judaica e cristã, dos quais alguns têm valor literário e histórico, mas não foram aprovados como sendo de autoridade divina e inspirados por Deus. Alguns deles foram inseridos, posteriormente, na Bíblia – os chamados livros apócrifos.A Septuaginta (versão grega do Antigo Testamento produzida entre o terceiro e o segundo século a.C.) incluiu os apócrifos com o Antigo Testamento canônico. Jerônimo (c. 340 - 420 DC), ao traduzir a Vulgata (uma versão da Bíblia traduzida para o latim), distinguiu entre os livros canônicos e os eclesiásticos (que eram os apócrifos), e essa distinção acabou por conceder-lhe uma condição de canonicidade secundária. Ao todo, são sete livros e alguns capítulos, que foram acrescentados à Bíblia, que hoje é utilizada pelos católicos, os quais são: I e II Macabeus, Tobias, Judite, Eclesiástico, Sabedoria de Salomão e Baruque, além de acréscimos aos livros de Ester (do capítulo 10.4 ao 16.24) e Daniel (A Canção do Três Rapazes - Dn 3.24-90 - A história de Susana – Dn 13 - e Bel e o Dragão – Dn 14); todos no Antigo Testamento.Estes livros foram inseridos, oficialmente, na Bíblia utilizada pelos católicos, no dia 8 de Abril de 1546, no Concílio de Trento, como meio de combater a Reforma protestante, pois algumas doutrinas católicas são apresentadas neles, tais como: purgatório, oração pelos mortos, salvação pelas obras, etc. Até o ano de 1629 algumas Bíblias produzidas pelos reformadores, como a famosa “King James”, ainda traziam os livros apócrifos, sendo totalmente excluídos desde então.As igrejas evangélicas rejeitam os livros apócrifos pelas seguintes razões: a) o cânon do Antigo Testamento foi fechado até o livro de Malaquias, e os apócrifos foram escritos depois disto; b) eles não foram aceitos pela comunidade judaica e cristã, incluindo os pais da igreja e nunca foram citados por Jesus ou pelos apóstolos; c) contém ensino contrário à Bíblia, incluindo justificação pelas obras (Tobias 4.7-11; 12.8; Eclesiástico 3.33,34), mediação dos Santos (Tobias 12.12; II Macabeus 7.28 e 15.14), superstições (Tobias 6.5, 7-9, 19), a oração culto e missa pelos mortos (Tobias 12.44-46), ensinam atitudes anticristãs, como: vingança, crueldade e egoísmo (Judite 9.2; Eclesiástico 12.6), entre outros.Podemos afirmar que não foram as igrejas evangélicas que eliminaram estes livros da Bíblia, mas a Igreja Católica Romana que os inseriu, sendo rejeitados por todas as igrejas evangélicas, anglicana e ortodoxa grega.

Conclusão: A Bíblia Sagrada é o Livro dos livros; a Palavra de Deus e a nossa única regra de fé e prática. Sua leitura é fundamental para o conhecimento de Deus; fora dos seus ensinamentos não podemos conhecê-lo, nem adorá-lo de forma correta. Precisamos, portanto, amar a Bíblia, estudar o seu conteúdo e adora o seu autor.

Obras Consultadas:
GEISLER, Norman e NIX, William. Introdução Bíblica: como a Bíblia chegou até nós. São Paulo: Editora Vida. 1997.
MCDOWELL, Josh . Evidência que exige um veredito: evidências históricas da fé Cristã. São Paulo. Editora Candeia, 1996.