quinta-feira, 30 de junho de 2011

A REFORMA PROTESTANTE


O PAGANISMO NA IGREJA
Nos primórdios do cristianismo as igrejas eram independentes e administradas sob a supervisão de um Bispo em cada região metropolitana. Os bispos eram perseguidos, encarcerados, maltratados e agredidos.Aqueles que haviam sido torturados, ostentavam grandes cicatrizes. Alguns estavam caolhos, aleijados e doentes. Apesar disso, não negaram a fé em Jesus e a Igreja prosperava a cada dia. Para ser cristão, nesse período, era necessário uma experiência pessoal e genuína com Cristo, do contrário, não seria possível suportar a perseguição.

Ao perceber o avanço do cristianismo, o império aliou-se a nova religião. Em 313 d.C. o tetrarca ocidental Constantino I, o grande , e Licínio, o tetrarca Oriental, promulgaram o édito de Milão, também referenciado como: édito da Tolerância, declarando liberdade de culto aos cristãos e dando fim a perseguição religiosa.

Tempos depois em 324 d.C, Licínio é assassinado e Constantino I passa a ser o único Imperador. Para manter a Igreja sobre controle, o Imperador converte-se ao cristianismo. No final de maio de 325 d. C, ele convoca um concílio ecumênico em Nicéia, e ao total, reuniram-se trezentos e dezoito bispos. O concílio durou dois meses e declarou o bispo de Alexandria como, patriarca dos bispos das regiões da África do Norte e arredores e o bispo de Roma, o legítimo líder emérito dos bispos do Ocidente.

A partir desta data, para ocupar o Bispado precisava-se do aval do Imperador. E, agora que a perseguição tinha cessado, para ser cristão não era mais obrigatório a experiência pessoal e a conversão genuína.

O golpe total sobre a Igreja veio em 380/381 quando o Imperador Teodósio promulga o Édito de Tessalônica declarando o cristianismo religião oficial do Imperador, trazendo para dentro da Igreja multidões de pessoas não convertidas que, para se tornarem agradáveis ao Imperador, faziam-se cristãos nominais, sem experimentarem a genuína conversão, introduzindo na Igreja heresias e práticas do paganismo reinante.

Dentre as heresias pode-se destacar no ano 400 d. C, o culto à virgem e aos santos, o fato de Maria passar a ser chamada Theotokos – mãe de Deus, a invenção da oração aos mortos e o sinal da cruz. Em 440 d. C, Leão Magno (Leão I) – Bispo de Roma, declara que o episcopado romano é a autoridade suprema da Igreja no mundo. Um constrangimento que o catolicismo mantém a sete chaves são os onze anos de pontificado da papisa Joana que teve inicio em 741 d. C.

CISÕES E CORRUPÇÕES NA IGREJA
Com a entrada do paganismo, os interesses particulares passaram a sobrepujar a doutrina cristã. A indicação para o papado era feita mediante suborno e muita corrupção; por exemplo, após a morte do papa Cônon (687 d. C), Pascoal subornou o arcebispo de Ravena, no intuito de também ser reconhecido como papa legítimo. Em Roma, tinham sido eleitos, nesse ínterim, Teodoro e também Sérgio I. como Pascoal não pagasse a quantia acertada a Ravena, o arcebispo de lá se decidiu em favor de Sérgio I. Teodoro submeteu-se a decisão e Pascoal foi parar no cárcere.

No inicio do segundo milênio da Era Cristã, tanto a igreja católica ocidental, liderada por Roma, como a ala oriental, liderada por Constantinopla, já haviam incorporado em suas práticas e liturgias vários pontos que seriam questionados pela Reforma. Assim, no ano de 1054, uma bula papal de excomunhão do Patriarca Oriental dói depositada no altar de Santa Sofia, em Constantinopla. Houve retaliação por parte do patriarca de Constantinopla e o Cisma estava configurado. A partir daí a história se divide e passamos a acompanhar muito mais a história da igreja romana, do que Ada igreja Grega Ortodoxa e de suas variações e ramos (Russa Ortodoxa, Marinitas, etc.).

Um outro Cisma no Catolicismo durou 40 anos (1377-1417). Nesse período houve simultaneamente dois papas, um em Avignon, na França e o outro em Roma. Os cardeais dos dois partidos pensaram em resolver a situação através da convocação de um Concílio em Pisa (1409). Os dois papas existentes são depostos e é designado um novo, Alexandre V. A cristandade tem agora três papas, já que Bento XIII e Gregório XII se recusam a abdicar. O imperador Sigismundo impõe então a João XXIII, sucessor de Alexandre V, a convocação de um novo Concílio em Constância (1414).

Durante o Concílio de Constança, 3 papas estiveram lá, toda a manhã, amaldiçoando-se uns aos outros e chamando seus oponentes de anticristos, demônios, adúlteros, sodomitas, inimigos de Deus e dos homens. Um deste papas, João XXIII (1410-1415) foi acusado por 37 testemunhas (na maioria bispos e padres) de fornicação, adultério, incesto, sodomia, roubo e assassinato. Foi provado, por uma legião de testemunhas, que ele havia seduzido e violado mais de 300 freiras. Seu próprio secretário, Niem, disse que ele havia em Boulogne montado um harém, onde não menos de 200 meninas tinham sido vítimas de sua lubricidade. Um registro no Vaticano oferece esta informação: Sua santidade, o papa João XXIII, cometeu perversidade com a esposa do seu irmão, incesto com santas feiras, relações sexuais com virgens, adultério com as casadas, e todos os tipos de crimes sexuais totalmente devotado ao sono e outros desejos carnais, totalmente adversos á vida e ensino de Cristo, ele era chamado publicamente de o diabo encarnado.

Para aumentar sua fortuna, João XXIII cobrou impostos sobre quase tudo – incluindo prostituição, o jogo e a usura. Ele tem sido chamado de o mais depravado criminoso que já sentou no trono papal.

Os cismas e as imoralidades, acima relatadas, fragilizaram, gravemente a autoridade pontifica, acendendo duras críticas à igreja. Deste modo, começaram a surgir movimentos reformistas que pregavam uma vida cristã mais coerente com o Evangelho. Destes movimentos podem-se destacar: os valdenses, no século XII, conhecidos como os pobres de Lyon ou os pobres de Cristo – que questionaram a autoridade eclesiástica, o purgatório e as indulgências. Os cátaros ou albigenses – que defenderam nos séculos XII e XIII um ascetismo exacerbado e os Petrobrussianos – que rejeitavam a missa e defendiam o casamento dos padres.

PRINCIPAIS PRECURSORES DA REFORMAJohn Wycliff - Um dos grandes precursores da Reforma foi John Wycliff. Nascido na cidade de Yorkshire, Inglaterra, em 1329. foi professor da Universidade de Oxford, teólogo e reformador religioso inglês, considerado precursor das reformas religiosas que sacudiram a Europa nos séculos XV e XVI, Wycliff queria reformar a Igreja Romana através da eliminação dos clérigos imorais e pelo despojamento de sua propriedade que, segundo ele, era a fonte da corrupção.

As obras mais proeminentes foram: A Verdade das Sagradas Escrituras, O Poder do Papa, Apostasia e Eucaristia. Convicto de que a Bíblia é a lei de Deus, resolveu dá-la ao povo na sua própria língua. Entre 1382 e 1384 as Escrituras foram traduzidas da Vulgata Latina para o Inglês. O arcebispo de Cantuária reuniu um sínodo em Londres que condenou 24 teses de Wycliff. Ele não mais lecionou em Oxford e seus sacerdotes pobres foram presos. Pessoalmente, Wycliff não foi atacado, em virtude do forte apoio popular e da corte de que ainda gozava.

Morreu, no exercício de seu pastorado em Lutterworth, no ultimo dia do ano de 1384 tinha vivido 55 anos. Trinta anos após sua morte o Concílio de Constança (1414-1415) o condenou como “o pestilento canalha de abominável heresia, que inventou uma nova tradução em sua língua materna”. Em 1428, a igreja Romana deu ordem para cavar sua sepultura, queimar os seus ossos, e lançar suas cinzas no rio Swift. John Wycliff foi o principal expoentede medidas reformadoras e, por isso, é chamado de: “Estrela d’Alva da Reforma”

João Huss - Um dos grande seguidores de Wycliff, foi João Huss. Nascido em 1369, em Husinec 975 kn de Praga) cursou o bacharelado e o mestrado em teologia e tornou-se famoso por divulgar as idéias de Wycliff e tornar-se reformador da Boémia. Em 6 de Julho de 1415, em Constança, no dia de seu aniversário, foi queimado vivo por ordem da Igreja Romana, estava completando 46 anos de idade. Antes de ser queimado, Huss disse as seguintes palavras ao carrasco: “Vocês hoje estão queimando um ganso (Huss significava ganso na lingua boêmia), mas dentro de um século, encontrar-se-ão com um cisne. E este cisne vocês não poderão queimar. Costuma-se identificar Martinho Lutero com esta profecia (que 102 anos depois pregou suas 95 teses em Wittenberg).

Jerônimo Savonarola - A vida do monge italiano Jerônimo Savonarola nascido no dia 21 de setembro (1452-1498), um dos precursores da Reforma do século XVI, abrangeu vários campos da atividade humana na cidade italiana de Florença. Em seus sermões atacou violentamente os crimes de Roma e pregava como um dos profetas hebreus. Savonarola terminou preso por ordem papal e foi condenado à morte. Em 25 de maio de 1498, foi enforcado e queimado na grande praça de Florença, aos 46 anos de idade, dezenove anos antes das 95 Teses de Lutero.

Vários outros clérigos passaram a difundir as idéias de Wycliff E Huss. Entretando, em virtude de nosso pouco espaço, apresento para este trabalho apenas esses três.

MOTIVOS QUE LEVARAM A REFORMA
No início do século XVI, a decadência moral do catolicismo romano era assustadora. Alexandre VI (1492-1503) ganhou sua eleição para o papado subordinando cardeais. Muitos o consideram mais corrupto dos papas da Renascença. Ele viveu em incesto público com suas duas irmãs e com a própria filha, Lucrecia, de quem se diz que teve um filho. Em 31 de outubro de 1501, promoveu uma orgia de sexo no Vaticano, que não teve igual em terrível horror nos anais da história humana.

Anos depois João de Médice, que assumiu o nome de Leão X, tornou-se papa de forma inusitada (1513-1521). Ele recebeu o chapéu do papa Inocêncio VIII, na idade de 13 anos – tratava-se de um acordo entre papa e o pai de João Médice, o poderoso governante de Florença. Aconteceu que o papa Inocêncio VIII tinha um filho natural que havia se casado com a irmã de João de Médice (Leão X). Mas tarde Leão X, deu o chapéu de papa a um neto de Inocêncio VIII, o qual era também sobrinho de Leão X – esta ação também fazia parte do acordo firmado anteriormente.

Leão X tornou-se um grande corrupto. A venda de indulgências predominou durante o seu papado. Tudo começou quando o arcebispo de Madnburgo reivindicou junto ao papado a acumulação das funções das dioceses de Mayence e Hlberstadt, na Alemanha. A confirmação dada pelo papa Leão X (da família dos banqueiros Médice de Florença), em agosto de 1514, custaria ao arcebispo, à soma de 14 mil ducados, acompanhada de uma concessão voluntária de mais 10 mil ducados.

A intermediação do negócio entre o arcebispo e o papa foi reservada ao grande banqueiro Jacob Fugger, o rico. Foi para pagar os adiantamentos de Fugger que o papa Leão X concedeu ao arcebispo permissão de vender indulgências ao preço entre 8 e 9ducados cada uma, nas condições do seu arcebispado.

A concessão, conforme determinou a bula papal de31 de março de 1515, se estenderia por oito anos, sendo que o arcebispo e o pontífice dividiriam entre si os proventos alcançados repassando-os ao credor Fugger. Sendo queLeão X, com o que lhe cabia, pensava em acelerar as obras do Vaticano, então em construção. Todavia, Maximiliano, o imperador do Sacro Império Romano-Germano, desde que fora informado do acordo, exigiu sua participação, reclamando para si, durante os três primeiros anos, 1/3 do que fosse recolhido entre os crentes temerosos das penas eternas.

John Tetzel, conhecido como homem de má conduta, mas que era habilidoso na arte de levantar fundos, foi indicado para vender as indulgências na Alemanha. Diante da cruz era colocado um grande cofre de ouro para receber o dinheiro e em seguida, o povo era induzido de várias maneiras, a comprar indulgências.

Tetzel levava consigo um quadro do diabo atormentando as almas no purgatório e repetia freqüentemente as palavras que apareciam na caixa de dinheiro: Sobald der pfennig im kasten klingt, kie seel aus dem Fegfeuer springt, que traduzido livremente significa, Assim que o dinheiro no cofre cai, alma atribulada do purgatório sai. Os ricos davam grandes doações, enquanto os pobres camponeses sacrificavam o que podiam a fim de ajudarem seus queridos no purgatório, ou para obter perdão de seus pecados.

Além disso, o alto clero, a começar pelo papa, explorava a crendice popular praticando a simonia, ou seja, o comércio de artigos religiosos. Entre os produtos comercializados encontravam-se tíbias do jumento montado por Jesus quando entrou em Jerusalém, pedaços do manto da virgem Maria, frascos contendo ar da gruta de Belém e uma série de outras relíquias falsificadas.

Obras consultadas:
OSLON. Roger. História da Teologia Cristã. São Paulo: Editora Vida, 2001. p. 156.
FISCHER-WOLLPERT, Rudolf. Léxico de Papas. Petrópolis: Editora Vozes, 1991. p. 44.
MARK A. Knoll. Momentos Decisivos na História do Cristianismo. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1998
WOODROW, Ralph. Babilônia: a Religião dos Mistérios, Cap. 9, p. 70-71, Cap.12, p.101-102.
HUGHES, Philip. História da Igreja Católica. Asão Paulo: Dominus Editora S.A, 1962.
ALMEIDA, João Ferreira. Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. CPAD, 1995.