quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

CONTEXTUALIZAÇÃO DO SALMO 126

O estudo, ora apresentado é sobre o Salmo 126 registrado na galeria dos salmos dos degraus. Este salmo é um louvor a Deus pela restauração e retirada do cativeiro, pois é um salmo pós-exílio. O povo estava experimentando a tão sonhada libertação, depois do cativeiro na Babilônia.

Contextualização
O Salmo 126 é um salmo pós-exílio, ele foi escrito após o cativeiro babilônico. Esse Salmo, que está contido nos cânticos cantados durante a peregrinação a Jerusalém (das subidas, dos degraus, de ascensão, entre outros subtítulos que aparecem na seção dos salmos 120-134), traz em si a síntese do passado e do futuro. Ele fazia parte da história do povo de Deus, a temática e a importância desse salmo na história do povo de Deus é que toda a síntese desse salmo vem refletir o sofrimento, as dores, as decepções, as provações que o povo de Deus na sua história de vida vivenciou, mas esse salmo também retrata o triunfo, a conquista, o cumprimento das promessas de Deus, a fidelidade para com o seu povo.
“Grandes coisas fez o Senhor por nós, por isso estamos alegres”. Nosso louvor e nossa alegria são motivados pelas grandes obras de Deus realizadas em nosso favor. Israel, o povo de Deus, confessou com alegria estas palavras. Pois o Senhor, por seu poder e misericórdia, fez grandes coisas por eles. Toda a história de Israel no AT mostra-nos os grandes atos de salvação realizados por Deus em favor do seu povo (êxodo, deserto, Canaã). Deus sempre foi fiel e bondoso para Israel. Mas Israel, por muitas vezes, respondeu ao Senhor com ingratidão e rebeldia. E o Senhor sendo justo, castigou o seu povo várias vezes por suas transgressões. Um dos castigos que Deus deu ao seu povo foi o cativeiro sob um povo estranho (Dt. 28.49,64). Dois principais cativeiros ocorreram na vida do povo de Deus por causa dos seus pecados: cativeiro assírio (722 a.C.) e babilônico (586 a.C.).
O Senhor castigava o seu povo a fim de levá-lo ao arrependimento e restaurar a comunhão com ele. No castigo, o Senhor lembrava-se da sua misericórdia. Ele agiu em favor do seu povo restaurando-lhe a sorte: derrotou os babilônios e libertou o seu povo do cativeiro (539 a.C.). Um homem chamado Ciro foi o instrumento usado por Deus para libertar o seu povo (Is. 44.28; 45.1-7). O povo de Deus voltou para Jerusalém e restaurou a cidade e o templo do Senhor que antes foram destruídos por causa do cativeiro.
O Salmo 126 se encaixa dentro desse contexto histórico. Os salmos expressam as emoções dos salmistas em relação a Deus e estão ligados a uma situação histórica. Quando o salmista confessa que o Senhor restaurou a sorte do seu povo ele está se referindo à libertação do povo do cativeiro babilônico e o seu retorno à Jerusalém. Não foi somente um retorno físico, mas um retorno espiritual (Deus presente no meio do seu povo a fim de ser adorado no templo em Jerusalém que representava presença de Deus). Esse salmo era cantado pelo povo quando subia o monte Sião a fim de adorar o Senhor no templo.O salmista que escreveu o salmo 126, reconhece com alegria a graça e a fidelidade de Deus para com seu povo (v. 1-3 ).
As nações testemunharam as obras de Deus em favor do seu povo (v. 2 b). O grande amor de Deus para com seu povo era visível a todos bem como a sua ira. No castigo, Israel era zombado e escarnecido pelas nações pagãs inimigas do povo de Deus. Mas o testemunho das nações no salmo 126 é sobre a misericórdia de Deus para com seu povo.
O que ocorre na vida de um povo que é abençoado por Deus? Este povo só pode ser um povo grato e cheio de alegria. Vejam a situação de Judá. Antes, sob o domínio de um povo pagão no cativeiro, não tinham alegria, mas tristeza. Poderiam encontrar alegria na Babilônia? Entoar um hino de louvor ao Senhor numa terra estranha como escravos? Salmo 137:1-4 expressa a tristeza dos exilados.
Nos versículos 5-6 o salmista na regência da vontade divina, banhado pela inspiração do Espírito ele resume toda a história desse povo com uma linguagem totalmente agrícola para expressar as agonias, o sofrimento, mas também a conquista, os frutos que eles colheram. O final do Salmo recupera uma idéia generalizada na antiguidade, de que o processo de semeadura era difícil e, por isso, triste. Semear dá trabalho. Enquanto se semeia, os pés e mãos se ferem, o corpo se cansa, o sol castiga.
Em algumas mitologias antigas, a idéia de morte está presente na semente sepultada sob a terra. Semear é um tempo de dor. Mas a visão dos campos floridos, dos frutos amadurecidos compensa tudo. A lágrima não foi desperdiçada: ela regou a colheita. A restauração tem frutos como resultado. Ela é sempre um processo frutífero, por mais dolorido que seja. Por isso, é possível ver sorrisos onde antes havia lágrimas.É isso que vemos no contexto do salmo 126, um quadro totalmente diferente: a tristeza deu lugar à alegria. Agora poderiam tocar suas harpas e cantar salmos de louvor ao Senhor em Jerusalém, pois o Senhor lhes restaurou a sorte, fez grandes coisas por eles.

Conclusão:
O Salmo 126 nos mostra varias lições e ao mesmo tempo nos convida a redescobrir o sonho e a vivê-lo nas pequenas e grandes restaurações que Deus faz em nossa vida. A restauração tem frutos como resultado. Ela é sempre um processo frutífero, por mais dolorido que seja. É sempre fonte de alegria, de regozijo e de esperança.
Podemos nos lembrar todos os dias das restaurações que Deus tem operado em nossas vidas, assim como o povo poderia se lembrar de inimigos que se levantaram contra eles ao longo dos séculos: egípcios, assírios, filisteus, cananeus em geral, babilônios. Não faltaram oposições nem opressões ou exílios. Entretanto, a todo o tempo, Deus proveu livramento, consolo, milagres, sinais e a possibilidade de recomeçar, reconstruir e renovar a vida e a esperança. Por isso, o sofrimento ou dificuldade presente é sempre uma condição tanto de memória quanto de esperança. Sabemos o que Deus fez e cremos no que ele fará.
Mas infelizmente em nosso mundo hoje, temos perdido a capacidade e a dimensão do sonho. Vemos isso nas coisas mais simples do cotidiano. Observe apenas os jovens à sua volta: como tem sido difícil para eles sonhar! Antigamente, sempre havia facilidade em dizer o que a gente queria ser quando crescesse, pois eu falei isso varias vezes (sonhei). Mesmo que fosse impossível, o sonho existia. Hoje, infelizmente, quando se faz essa pergunta a um jovem pré-universitário, não é raro receber a triste resposta: “Ainda não sei”.

Fonte:
ALMEIDA, João Ferreira. Bíblia do Obreiro. CPAD, 2005.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

A BONDADE DE DEUS

Leitura: Sl 34.1-8
Bondade é ser benevolente, amável e ela é exercida em favor dos outros. Esta bondade pode se definir como “aquela perfeição de Deus que o mantém solícito para tratar generosa e ternamente todas as suas criaturas”.
Quando Deus criou a terra e os céus, viu que tudo era bom (Gn 1.10,12,18,21,25,31). Tudo o que Deus faz é bom; tudo o que Ele aprova pode ser considerado bom.
Deus não é somente o maior dos seres, mas o melhor. Deus é originalmente bom em si mesmo. As criaturas podem ser boas, mas a sua bondade é comunicada, não essencial. Em Deus a bondade é parte da sua natureza. Não há Deus sem esse atributo. Ele é bom essencialmente. Deus não depende de ninguém para ter bondade. Ele a tem em si mesmo. Sua bondade não é derivada, é própria. A bondade que os homens possuem lhes é comunicada, mas em Deus a bondade é essencialmente infinita. A sua bondade não muda, mesmo que os homens mudem de atitude para com ele. Como Deus é imutável na sua natureza, assim ele o é nos seus atributos. Deus não muda de atitude para conosco em sua bondade, a menos que a manifestação de qualquer de suas bênçãos seja condicional à obediência dos seus filhos. Mas, mesmo quando seus filhos o desobedecem, a sua atitude de repreensão é cheia de bondade. Deus não se mostra em ira com seus filhos. Na hora de ira, ele se lembra da sua bondade (Hc 3.2).
Tudo o que é bom vem de Deus (Tg 1.17). Ele é a fonte de todo o bem.
Deus é bom para todos (Sl 145.9). Dá a vida, a respiração, a chuva, etc (At 17.25; Mt 5.45; 1 Tm 6.17).
Até o homem pecaminoso, não regenerado, recebe as bênçãos da bondade de Deus. O interesse bondoso de Deus se revela no cuidado para o bem das suas criaturas. Naturalmente, a manifestação de sua bondade tem uma variação de grau de acordo com a capacidade das criaturas em receber essa bondade. Ainda que os crentes não sejam os únicos a receber a bondade de Deus, eles são os únicos a reconhecer e a manifestar uma apreciação adequada das suas bênçãos sendo agradecidos por elas, servindo ao Senhor, o que resulta em mais bênçãos ainda.
Deus é bom (Sl 34.8; 100;5 145.9; Zc 9.17), misericordioso (Ex 34.6; Ne 9.31; Sl 103.8) e gracioso (Fp 1.2; Cl 1.6; 2 Ts 2.16). Jesus declarou que só Deus é bom (Mt 19.17).
A bondade de Deus é notória na variedade de prazeres naturais providenciados para o deleite das Suas criaturas – cores, perfumes, sabores - “porque a terra está cheia da bondade do Senhor” (Sl 33.5).

Expressões da bondade de Deus: graça e misericórdia (Ex 33.19; Sl 23.6).
A Graça de Deus
Graça: favor imerecido. Deus nos dá o que não merecemos (Rm 11.6; Hb 4.16). Graça é um ato de amor para com o necessitado. Deus ama ao Seu Filho unigênito. Mas não existe o elemento graça nesse amor. Ninguém pode dizer que Deus trata Seu Filho com graça.
Deus também ama os anjos, mas isso tampouco pode ser considerado como graça. Por que não é graça o amor do Pai para com o Filho e o amor de Deus para com os anjos? A razão é que não há perdas ou faltas envolvidas. Há somente amor; não existe a idéia de graça. Somente quando há perdas e faltas, quando não existe maneira para resolvermos nossos problemas por nós mesmos, é que o amor torna-se real como graça. Visto que somos pecadores, somos os que têm problemas, e não temos como solucioná-los. Mas Deus é amor e Seu amor é manifestado a nós como graça.
Portanto, quando o amor flui no mesmo nível, ele é simplesmente amor. Mas quando ele flui para baixo, é graça. Paulo saudou a igreja em Corinto: “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós” (2 Co 13.13). O amor de Deus tornou-se graça por meio da obra do Senhor Jesus. Portanto, a Bíblia diz-nos que a lei foi dada por intermédio de Moisés, mas a graça veio por meio de Jesus Cristo (Jo 1.17).

A Misericórdia de Deus
Misericórdia: benignidade manifesta aos que estão em aflição. Deus dá menos do que merecemos (Is 60.10; Hb 3.2). A misericórdia sempre pressupõe culpa. A criação toda foi afetada pela queda e está em estado de miséria e pecado, carente da misericórdia divina (Sl 145.8-9)
Deus é eternamente misericordioso, mas a manifestação da sua misericórdia só se entende após o aparecimento do pecado na queda. Há a misericórdia especial e esta diz respeito aos seres humanos caídos. Deus os ajuda e os socorre no meio de suas misérias por causa dos seus pecados.
Podemos definir misericórdia como ‘a bondade de Deus ou amor de Deus para com os que se encontram em miséria e angústia espirituais, sem levar em conta o fato de que eles a merecem. Olhando de um outro prisma poderíamos dizer que misericórdia é o fato de Deus deixar de nos dar aquilo que nós merecíamos receber (Lm 3.22)
O que justamente merecíamos Deus não nos dá, isto é, a punição. Quando dizemos que Deus é misericordioso, estamos dizendo que ele não nos trata segundo os nossos pecados. Ao contrário, ele nos perdoa, não colocando sobre nós a penalidade de nossas transgressões.
Misericórdia é para questões negativas, enquanto graça é para questões positivas. Misericórdia está relacionada com a condição presente, e graça está relacionada com a condição futura. Misericórdia fala da pobreza da nossa condição presente, e graça fala da condição radiante em que você será salvo no futuro.
O sentimento que Deus tem para conosco quando somos pecadores é misericórdia. A obra que Deus realiza em nós para fazer-nos Seus filhos é graça. Não ouso pedir a Deus que me ame nem ouso pedir-Lhe que mostre graça. Mas posso pedir misericórdia a Deus.
Efésios 2.4-5 diz: “Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos”. Paulo disse que Deus era rico em misericórdia por causa de algo. Esse algo é Seu grande amor com que nos amou. Sem amor não haveria misericórdia. Em que situação foi Ele misericordioso para conosco? Ele foi misericordioso para conosco quando estávamos mortos em nossos delitos. Aquilo teve a ver com nossa infeliz situação presente. Por estarmos mortos em pecados, Ele teve misericórdia de nós. Ele teve misericórdia de nós baseado em Seu amor por nós. Que acontece após a misericórdia? O versículo 8 prossegue dizendo-nos que Ele nos salvou pela graça. Portanto, a misericórdia foi-nos mostrada porque estávamos em uma situação de mortos em nossos delitos; então, a graça foi-nos dada para nossa salvação, indicando que recebemos uma nova posição e entramos numa nova esfera. Agradecemos a Deus porque não há somente amor e graça, mas também grandiosa misericórdia.
Em 1 Timóteo 1.13 Paulo diz: “A mim que noutro tempo era blasfemo e perseguidor e insolente. Mas obtive misericórdia, pois o fiz na ignorância, na incredulidade”. Paulo explica aqui como obteve misericórdia. O fato de obter misericórdia tinha muito a ver com a história de sua vida.
Tito 3.5 diz: “Não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou”. Não há justiça em nós. Enquanto estávamos sem justiça e numa situação de sofrimento e sem esperança, Deus teve misericórdia de nós. Graças ao Senhor que existe a misericórdia! Vimos anteriormente que a misericórdia origina-se no amor e termina na graça. Quando a misericórdia se estende, somos salvos. Ele teve misericórdia de nós na condição em que estávamos, e como resultado fomos salvos.
Romanos 11.32 diz: “Porque Deus a todos encerrou na desobediência, a fim de usar de misericórdia para com todos”. Por que Deus encerrou a todos na desobediência? Foi para que pudesse mostrar misericórdia a todos. Deus permitiu que todos se tornassem desobedientes e encerrou a todos na desobediência, não com o propósito de fazê-los desobedientes, mas a fim de mostrar misericórdia para com todos. Após ter mostrado misericórdia, Seu próximo passo foi salvá-los.
Existe um lugar na Bíblia que nos mostra claramente que nossa regeneração é proveniente da misericórdia. A Primeira Epístola de Pedro 1.3 diz: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos”. Toda a obra de Deus na graça foi planejada de acordo com Sua misericórdia em amor. Sua graça é dirigida por Sua misericórdia, e Sua misericórdia é dirigida por Seu amor. É segundo a Sua grande misericórdia que Deus nos regenerou para uma viva esperança mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos.
Assim sendo, tanto a regeneração como a viva esperança estão relacionadas com a misericórdia. Por existir a misericórdia, existe a graça. Hebreus 4.16 exorta-nos a vir constantemente ao Senhor a fim de orar. Ao virmos orar diante do Senhor, recebemos misericórdia e achamos graça para socorro em ocasião oportuna.

A Paciência ou longanimidade
Há um sentido em que Deus é misericordioso com todos, pelo menos temporariamente. Por algum tempo Deus suporta os seus pecados e não os trata conforme eles merecem. Por esta razão, eles conseguem ter uma vida até suportável, a despeito de todas as suas ofensas ou indiferença para com Deus. Alguns teólogos chamam de paciência ou longanimidade divina (Ex 34.6; Nm 14.18; Sl 86.15; 103.8; 145.8; Jn 4.2; Na 1.3).
Na sua longanimidade, Deus espera e leva os homens ao arrependimento (Rm 2.4; 3.25; 9.22). Ele é tão bondoso para conosco que nos suporta e não desiste de nós, mesmo quando reiteradas vezes lhe desagradamos. Há, porém, um limite para isto.

Que Deus continuamente te abençoe.

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