quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O INICIO DEVE SER OBSERVADO

O primeiro capitulo de Gênesis apresenta Deus trabalhando. Geralmente a nossa atenção se dirige às coisas criadas. Entretanto, esse livro tem muito a nos ensinar sobre seu principal personagem: O próprio Deus. Assim como as nossas obras mostram o nosso caráter, também a criação revela diversos aspectos da natureza divina.

Entre Gênesis 1.1 e 2.3, sete dias se passaram. Vemos ali um exemplo de como aproveitar bem a semana. Nos seis primeiros dias, Deus fez toda a sua obra e no sétimo descansou. Em cada dia, algo significativo era feito. Nós também precisamos usar bem o nosso tempo. Quantas pessoas deixam a semana passar e não resolvem o que precisa ser resolvido nem fazem o que deve ser feito. Assim passa o mês, os anos, a vida. Muitos querem descansar antes de trabalhar e sofrem por isso. O exemplo que Deus nos deu é bem diferente. A preguiça não encontra apoio bíblico. O trabalho excessivo também não. Os preguiçosos sofrem necessidades e quem trabalha excessivamente sofre desgastes físico e mental. Trabalhar e descansar são importantes, cada um na medida e no tempo certo.

Deus poderia ter dito: “haja tudo”, e tudo de uma vez passaria a existir. Então teríamos apenas um versículo narrando a criação. Sabemos que não foi assim. Podendo fazer tudo de uma só vez, ele quis dividir seu trabalho em etapas. No primeiro dia Deus cria a luz cósmica, no segundo dia o firmamento, no terceiro dia a terra seca e no quarto dia os luzeiros, ou seja, os astros. Nesses quatro dias Deus põe em ordem a criação. No quinto dia cria os peixes e as aves, no sexto dia os animais e o homem. No quinto e sexto dia Deus da vida a criação. No sétimo dia houve o descanso de Deus aonde ele declara que a criação é boa.

O texto de Gênesis 1 nos mostra, de maneira bem interessante, que Deus é organizado. Ele fez todas as coisas na ordem necessária. Primeiro a água, depois os peixes. Primeiro o céu, depois as estrelas. Primeiro os minerais, depois as vegetais e por último, os animais. Deus não começou criando um boi para deixar o animal mugindo de fome.

Uma das formas de vê o sofrimento natural na vida do homem é através da desordem em casa, no trabalho, na escola, e etc, dificilmente alcançaremos um bom nível de realização através da desordem. Adiantar, atrasar ou inverter a ordem pode causar muito sofrimento.

A criação do homem foi um ato de amor do criador. Assim como o oleiro toma o barro em suas mãos para moldar o precioso vaso, Deus formou o ser humano do pó da terra, soprou em suas narinas o fôlego de vida e o colocou em um jardim preparado com todo carinho.

É interessante observarmos que Deus, embora tenha feito tanto, ainda deixou muitas coisas para que o homem fizesse. É assim até hoje. Ninguém deve pensar que Deus fará tudo sozinho. Em varias questões da vida, nossa participação, decisão e trabalho são importantes. O mais difícil ele fez, que foi criar o ouro. Agora, cabe ao homem encontrá-lo. E, em casos assim, não basta orar é preciso trabalhar. Refiro-me ao ouro como uma ilustração para tudo aquilo que possa ser importante e valioso para cada um de nós.

Também está escrito que Deus colocou Adão no Éden para lavrar e guardar. O trabalho não é castigo pelo pecado, como muitos pensam, pois ele já existia antes que o homem pecasse (Gn 2.15). Porém, após a queda, o trabalho se tornou árduo (Gn 3.19), pois depois da queda entrou o sofrimento na vida do homem.

Nas palavras de despedida de Jesus aos seus discípulos ele disse: Tenho-vos dito estas coisas, para que em mim tenhais paz. No mundo tereis aflições; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo (Jo 16.33). Essas aflições são o sofrimento que enquanto estivermos aqui teremos que suportar, pois faz parte da história da humanidade.

Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã; porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal. (Mt 6.34).

É importante que aprendamos a respeito do sofrimento natural que brotou no Éden para que possamos ter atitudes corretas diante dele.

No meio do jardim havia duas arvores: a árvore da vida e a árvore do conhecimento do bem e do mal. Sabemos que através desta ultima, veio a transgressão humana. Satanás sempre oferece experiências interessantes que acabam por destruir aqueles que a realizam. O fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal trazia consigo uma promessa de conhecimento. Será que Adão e Eva não conheciam o bem? Depois de haverem comido o fruto proibido, constataram que o bem era exatamente a forma de vida que tinham antes daquele ato pecaminoso. Depois de terem comido eles concluíram que estavam muito bem antes, e para eles eram tarde demais para voltar e recuperar o estado anterior.

Por quê Deus colocou aquelas duas árvores no meio do jardim? Podia haver ali apenas a árvore da vida e tudo seria mais simples. Entretanto, o Senhor deu ao homem o direito de escolha, não desejando que a humanidade o servisse apenas por falta de opção. Antes do pecado, o homem vivia envolvido pelo bem, embora não tivesse consciência disso. O mal já existia, mas Adão não o conhecia. Por isso, dependia de Deus para protegê-lo. E foi isso que o Senhor fez ao alertá-lo a respeito daquele fruto.

A serpente junto à árvore do conhecimento do bem e do mal, comportou-se como um vendedor desonesto que faz propaganda enganosa do seu produto, escondendo as desvantagens e anunciando as vantagens, que sejam verdadeiras ou falsas. Esse tipo de comerciante também procura esconder o preço, geralmente alto. Se for muito baixo, é possível que a mercadoria seja ruim. É comum colocar-se em destaque uma prestação irrisória, enquanto que o número de parcelas, a taxa de juros e o valor total, geralmente absurdo, estão em letras miúdas.

De acordo com a cobra possuída, o fruto traria os seguintes benefícios: abrir os olhos, tornar o homem igual a Deus, fazendo-o conhecedor do bem e do mal. Isso seria verdade? E, se fosse, seria beneficio? Eva achou que sim. É verdade que os olhos de Adão e Eva seriam abertos, mas isso não seria bom. O ser humano já era semelhante a Deus (Gn 1.26) e jamais se tornaria igual a ele. Deus criou o homem à sua própria imagem. Isto não quer dizer que o homem se pareça fisicamente com Deus, pois ele não tem um corpo físico (Jo 4.24; Lc 24.39). O que significa é que o homem tem consciência racional e livre arbítrio para determinar seus próprios atos. Essa liberdade explica por que o sofrimento se originou. O pecado que satanás cometeu no céu quando quis ser igual a Deus, era o mesmo que estava sendo proposto para Eva naquele momento.

As desvantagens foram camufladas: “Certamente não morrereis”. Parecia que o produto seria gratuito, entretanto, até hoje a humanidade não acabou de pagar a conta.

Eva poderia ter dito: Vou conversar com Deus e com meu marido sobre o assunto. Pelo contrario, ela decidiu na hora, por si mesma. Fechou um mau negócio precipitadamente. Depois que a mente de Eva já tinha sido convencida, o ato físico foi mera conseqüência. O pecado foi então consumado. O primeiro casal cometeu a primeira loucura humana.

O pecado como acontece quase sempre, foi simples, fácil e rápido. Ai está o problema: não é difícil pecar. Entretanto, o trágico desdobramento que se seguiu foi bastante complexo. É muito fácil furar um cano que está dentro da parede, depois fica difícil ou impossível controlar a água que jorra. A transgressão desencadeou uma série de fatos incontroláveis.

Adão e Eva tiveram seus olhos abertos e o que viram? Maravilhas que antes não conheciam? Viram que estavam nus e se envergonharam. Eles não eram cegos antes do pecado. Eles enxergavam. Contudo, agora, viam as coisas de uma forma diferente. Acabou a inocência e a pureza do olhar.

Tendo comido do fruto do conhecimento, agora conheciam um pouco mais e isso lhes trouxe sofrimento. Os animais não sabem que vão morrer um dia. Nós sabemos, e isso nos faz sofrer. E quando alguém que amamos morre não queremos aceitar, pois a morte não estava nos planos de Deus para o homem, mas hoje é conseqüência do pecado e uma forma de sofrimento natural.

Quando seus olhos foram abertos, o homem olhou para si mesmo e sua auto-imagem foi destruída. O pecado faz isso. A pessoa tem vergonha de ser o que é. Adão olhou também para Eva. O pecado muda nossa forma de ver o próximo. A impressão que tiveram um do outro foi tão negativa que se apressaram em fazer roupas para se cobrirem. A nudez se tornou vergonhosa. Antes não conheciam sentimentos negativos, nem mesmo o mais leve constrangimento.

Quando seus olhos foram abertos, eles passaram a ter também uma nova idéia sobre Deus e se esconderam dele. O pecado nos faz pensar no castigo e destrói nossa relação com o Senhor.

O pecado traz conseqüências imediatas e futuras, afetando o presente e o futuro, a curto, médio e longo prazo. É como as bombas atômicas que caíram sobre Hiroshima e Nagasaki. Milhares de pessoas morreram queimadas no mesmo instante, mas até hoje a radioatividade causa aleijões em algumas crianças que nascem ali.

Quando Eva pecou, a primeira conseqüência foi o segundo pecado: de Adão. Um pecado leva a outro e a outro e a outros tantos. Imediatamente, o ser humano começou a experimentar a vergonha, a culpa e o medo do próprio Deus. O texto não diz, mas eles devem ter sentido também decepção, tristeza, angustia, remorso, uma barreira entre eles e Deus e outras coisas ruins. Começava ali a história do sofrimento humano.

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